11.04.2012

Habituamo-nos

Habituamo-nos.
Acabamos por nos habituar. Tudo o que parece feio, medonho, tudo o que nos faz ter arrepios, que nos tira o sono, o apetite, a rotina, um pouco de nós, tudo o que parece feio e medonho, feio e medonho.
Habituamo-nos. 
Mas, vamos com calma. O processo de habituação do ser humano a qualquer substância estranha leva segundos, minutos, horas, dias, meses talvez. Nada é gratuito. 
Sangue, suor e lágrimas, o feio está para o medonho como o sossego está para o hábito, sangue suor e lágrimas.
Acredito que a habituação a algo novo e diferente, leve e simples, nos devolve aquilo que deveria ser nosso por direito, o sossego.
E falo por mim, mera aprendiz do hábito, tinha muitas saudades deste sossego da alma.
Habituamo-nos a tornar o mau no bom, o choro acumulado em conversas, a falta de apetite em coisas boas e cheirosas, o cinzento em azul, um túnel sem luz numa fotografia linda, pessoas que estavam ali em pessoas que têm que estar aqui. 
Toda esta plasticidade me faz acreditar que tudo, tudo, tudo aquilo em que tocamos pode perfeitamente ser reparado pelas mãos mais toscas e improváveis, nem que sejam as nossas.


A minha mão dos reparos é a esquerda, e ainda estou a habituar-me a ela.








4 comentários:

  1. continuo a gostar das fotos...mas a escrita...e estamos em dívida...

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  2. que texto lindo, lindo. que bem que escreves. *

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  3. Gostei disto "Toda esta plasticidade me faz acreditar que tudo, tudo, tudo aquilo em que tocamos pode perfeitamente ser reparado pelas mãos mais toscas e improváveis, nem que sejam as nossas", particularmente. E de tudo, no geral!

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O meu nome não é Rita Laranja. E gosto de tirar fotografias. amidnightinbuenosaires@gmail.com