Despedi-me e não dei conta. Não permiti sentir que me despedia, não permiti sentir nada sequer. Fiz com que fosse rápido, quase fugaz, empacotar tudo e partir. Partir. Não para sempre, mas por agora. Ou talvez agora e para sempre. Não sei. Partir.
Quando dei por mim, a hora de almoço já tinha passado, não me lembro de almoçar, também disso me proibi. Proibi-me de me lembrar do que quer que fosse. As lembranças podem ser demasiado traiçoeiras.
Ainda assim, fui. Fui com os meus e cheguei aqui. Um sítios bonito, as nossas pessoas. Já podia despedir-me, já podia sentir, sem proibições. E despedi-me.
Despedi-me da minha cidade. Da cidade dos meus amigos do coração, da cidade onde estudei, onde trabalhei, da cidade que me ensinou a ser crescida, da cidade da independência, da cidade de tantas noites, de tantas tardes de esplanada, da cidade de manhãs frescas e vigorosas, da cidade de tantos anos. Despedi-me dos meus recantos, dos meus lanches, do meu sol de fim de tarde, das minhas caminhadas, despedi-me da senhora da papelaria, despedi-me de todos aqueles por quem passava na rua, despedi-me um bocadinho de mim.
Despedi-me da cidade que também é nossa, minha, tua. Despedi-me da nossa cidade que nos deu tanto e nos tirou um outro, restando apenas um equilíbrio perfeito de trocas, também elas quase perfeitas.
E foi aqui, longe da minha cidade, que me despedi.
Apercebo-me que as despedidas nem sempre são terrivelmente cruéis.
Então, uma última vez, despeço-me. Despeço-me docemente da minha querida cidade, da cidade que tenho no coração.
E docemente, será sempre a minha cidade.
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