Estupidamente demorei este tempo todo a ver isto, a ver uma das melhores coisas que vi nos últimos tempos. Falo-vos do Pare, Escute, Olhe documentário bem português, verdadeiramente português, do melhor que temos em português, senão o melhor que temos em português.
Coincidência ou não, a vida tem destas coisas, ainda ontem falava das saudades que tinha de ver alguma coisa que me enchesse as medidas, a propósito de Óscares e coisas hollyoodescas, sentia falta de ver alguma que me levasse as palavras, que me prendesse verdadeiramente ali. De todos os filmes bons que vi nos últimos tempos, nada disto acontecia. Verdade das verdades, ando exigente e esquisita talvez.
Mas deixemo-nos de exigências e esquisitices, que são boas quanto-baste mas às vezes chateiam. Aconteceu, aconteceu com este documentário. Encheu-me todas as medidas, levou-me todas as palavras, fiquei ali eternidades.
É bonito e revoltante, é ternurento e atroz, é Portugal no seu estado mais bonito e mais horrível, é a verdade nua e crua, a verdade de todas as verdades.
Mas no fim, bem no fim, chegamos à conclusão que é a revolta que toma conta de tudo, é a revolta sob a forma de todas as coisas, acima da beleza, acima da ternura.
Tenho o privilégio, encho o peito para escrever privilégio, de viver numa das regiões mais bonitas, mais poderosas, mais imponentes que alguma vez vi, e que alguma vez vou poder ver. Olhos que a terra há-de comer, os nossos olhos brilham quando conseguimos ver e falo de Trás-os-Montes e Alto Douro, Trás-os-Montes duro, das raízes, da força, da poesia pura, dos calhaus que cantam, dos montes que uivam e o o Douro, o Douro d'ouro, o nosso Douro.
Tão sublime na sua vastidão, encantador nas suas cores, charmoso nas suas curvas, tão peculiar nas suas linhas, devastador na sua magnificência, de gentes verdadeiras, gentes sofridas, gentes de rugas de lousa e de memórias.
E esta região de montes e montanhas, de vales encantados, fonte de vida e alimento, dias de muitos e para muitos, esta região imensa está a deixar de respirar aos poucos, como facas que lhe atravessam as encostas, como balas que lhe perfuram os socalcos, como machados que lhe arrancam as raízes.
Lia-se no documentário,
"...quando este comboio morreu, morreu enforcado por uma gravata,
uma gravata de lei."
E termino.
No fim será sempre a linha, para sempre a linha.
estou sem palavras... é triste.
ResponderEliminare o teu texto, sublime.
(e vou mesmo ver este documentário)
Adorei o texto!
ResponderEliminaradorei*
ResponderEliminarestou a vender a polaroid por 40 e a espiral por 5 :)
ResponderEliminarSomos uns tristes...
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